(Hades. Teseu e Pirítoo dormem em cadeiras. Serpentes se enroscam em seus membros, deixando-os fixos nos assentos. Pirítoo acorda como que embriagado.)
PIRÍTOO — Ah, fartei-me! Tão boa carne, tão bom vinho. O sono é sempre bem-vindo. Espera. Ouço silvos. (assustado) Oh, cobras! Cobras! (se sacode na cadeira) Teseu, Teseu! Acorda.
TESEU — (sonâmbulo) Quem ousa perturbar o sono divino? Não vês que ainda é cedo?
PIRÍTOO — (esbraveja) Acorda, desditoso! Abre teus olhos agora. Vê: estamos presos nas cadeiras por cobras. Fomos enganados!
TESEU — (ainda sonâmbulo) Que dizes? São sonhos. Delírios. Tomaste vinho assaz.
PIRÍTOO — Não queres ver? Ao menos ouve.
TESEU — Silvos. Que há? (silêncio seguido de espanto) Silvos?! (desperta) Cobras! Cobras! Acode, acode!
PIRÍTOO — Somos dois.
TESEU — Que fazemos?
PIRÍTOO — Espera. Ouço alguém.
TESEU — Ouço contigo.
(Som de batalha. Coisas se quebram. Um homem urra com valentia, outros berram de dor. Choro de cão. Baque surdo no chão.)
HÉRACLES — (entra assoviando com uma coleira na mão) Único cão que aqui encontro a esta mordaça não serve. Oxalá Zeus fulmine a casa do que me enviou para cá.
TESEU — Héracles, amigo, és tu? Felizes são os deuses olímpicos.
HÉRACLES — Reconheço a voz de quem me fala. (vira-se) Sim, é Teseu! Que fazes no inferno? Não soube lá em cima de sua morte. Foste traído ou morreste lutando?
TESEU — Traído fui, mas não morri.
PIRÍTOO — Viemos levar Perséfone para ser minha esposa.
TESEU — E nos prenderam nestas cadeiras.
PIRÍTOO — Ao menos, bebemos e comemos até fartar.
TESEU — Oportuna é tua vinda, Héracles. Arranca já estas serpentes que nos prendem.
HÉRACLES — (aproxima-se) Oh, cobras! Afasta, afasta, afasta!
PIRÍTOO — Ah, fartei-me! Tão boa carne, tão bom vinho. O sono é sempre bem-vindo. Espera. Ouço silvos. (assustado) Oh, cobras! Cobras! (se sacode na cadeira) Teseu, Teseu! Acorda.
TESEU — (sonâmbulo) Quem ousa perturbar o sono divino? Não vês que ainda é cedo?
PIRÍTOO — (esbraveja) Acorda, desditoso! Abre teus olhos agora. Vê: estamos presos nas cadeiras por cobras. Fomos enganados!
TESEU — (ainda sonâmbulo) Que dizes? São sonhos. Delírios. Tomaste vinho assaz.
PIRÍTOO — Não queres ver? Ao menos ouve.
TESEU — Silvos. Que há? (silêncio seguido de espanto) Silvos?! (desperta) Cobras! Cobras! Acode, acode!
PIRÍTOO — Somos dois.
TESEU — Que fazemos?
PIRÍTOO — Espera. Ouço alguém.
TESEU — Ouço contigo.
(Som de batalha. Coisas se quebram. Um homem urra com valentia, outros berram de dor. Choro de cão. Baque surdo no chão.)
HÉRACLES — (entra assoviando com uma coleira na mão) Único cão que aqui encontro a esta mordaça não serve. Oxalá Zeus fulmine a casa do que me enviou para cá.
TESEU — Héracles, amigo, és tu? Felizes são os deuses olímpicos.
HÉRACLES — Reconheço a voz de quem me fala. (vira-se) Sim, é Teseu! Que fazes no inferno? Não soube lá em cima de sua morte. Foste traído ou morreste lutando?
TESEU — Traído fui, mas não morri.
PIRÍTOO — Viemos levar Perséfone para ser minha esposa.
TESEU — E nos prenderam nestas cadeiras.
PIRÍTOO — Ao menos, bebemos e comemos até fartar.
TESEU — Oportuna é tua vinda, Héracles. Arranca já estas serpentes que nos prendem.
HÉRACLES — (aproxima-se) Oh, cobras! Afasta, afasta, afasta!
TESEU — Que há? Medo de cobras?
PIRÍTOO — Um frouxo!
HÉRACLES — Cala! Cortarei uma a uma com minha espada. (puxa uma enorme espada, prepara-se para golpear)
TESEU — (berra) Não! (muda de tom) Assim não. Decepar-me-á. Apanha com tuas fortes mãos.
HÉRACLES — Com as mãos? Não. Com as mãos não.
TESEU — Por que não?
HÉRACLES — E se me picam?
PIRÍTOO — No Hades já estás. Menos trabalho a Hermes e Caronte.
TESEU — Pega pela cabeça. Um pouco abaixo da cabeça e estrangula. Assim não te mordem.
HÉRACLES — (aproxima-se, toca uma serpente e se afasta dois passos, limpando a mão no corpo.)
TESEU — Foste mordido?
HÉRACLES — Não, não.
PIRÍTOO — Que há, então, contigo?
HÉRACLES — Oh, como são asquerosas!
PIRÍTOO — Ai de mim! Fadado a morar no Hades. Sequer morto estou. Antes os deuses me enviassem dois afeminados e as cobras teriam desaparecido.
HÉRACLES — Cala outra vez. Pensarei em algo (senta no chão)
(Longo silêncio. Pirítoo tamborila no braço da cadeira, Teseu acompanha o ritmo batendo os pés no chão.)
HÉRACLES — (ergue-se berrando num salto repentino) Eureka!
(Pirítoo e Teseu quase saltam da cadeira com o susto. As cobras caem mortas.)
PIRÍTOO — Queres nos matar de susto? Dize logo o que pensaste.
TESEU — Pirítoo, vê: as cobras morreram com o susto.
HÉRACLES — Podemos ir, agora. Tenho de passear com o cão. (sai)
(Teseu e Pirítoo tentam se levantar, mas ainda permanecem com suas bundas grudadas no assento)
TESEU — (berra) Héracles! Ditoso herói, filho do excelso Zeus. Acode.
HÉRACLES — (volta) Que há? Ainda querem descansar do banquete?
PIRÍTOO — Não conseguimos sair. Pareço pesar dez vezes mais o que peso.
HÉRACLES — Culpa da comida que comeram e do vinho que beberam.
PIRÍTOO — Não fales asneira! Arranca-nos já daqui.
HÉRACLES — Talvez um pouco de água quente ajude. Esperem. Vou procurar.
TESEU — Água quente, aqui, não há. Pensa em outra solução.
PIRÍTOO — Silêncio. Ouço vozes.
HÉRACLES e TESEU — Ouvimos contigo.
PIRÍTOO — Ouço passos.
HÉRACLES e TESEU — Ouvimos contigo.
PIRÍTOO — Parece ser uma legião.
HÉRACLES — Adeus! Vou-me em boa hora.
TESEU — Quê? Espera! Leva-nos também.
(Héracles aproxima-se de Pirítoo, abraça seu torço e faz extrema força. Pirítoo berra de dor, Héracles o solta e dá um murro em seu rosto, fazendo o herói desmaiar)
TESEU — Enlouqueceste?! Qual a necessidade do golpe?
HÉRACLES — Os gritos irão denunciar-nos.
TESEU — Vai, apressa-te. Tira-me daqui. Ouço-os mais próximos.
HÉRACLES — (mostra o punho cerrado) Sabes já, se gritar.
(Em um só puxão Héracles arranca Teseu da cadeira, este grunhe e chora. Está saltitando de dor)
TESEU — (coça a bunda) Eu sangro?
HÉRACLES — Sangra.
TESEU — (olha para a cadeira) Arrancaste um pedaço de mim!
HÉRACLES — Ordens tuas.
TESEU — Ai! E como me sento agora?
HÉRACLES — Por tanto tempo sentado, ainda pensas em sentar?
TESEU — E Pirítoo?
HÉRACLES — Deixemo-lo. Se queria ele estar com Perséfone, aqui está. Vamos. Apressa. Tenho que buscar o cão.
TESEU — Vieste com um cão?
HÉRACLES — Não. Levo Cérbero, cão infernal.
TESEU — Por que o levas? Não temes a vingança de Hades?
HÉRACLES — Hades? Pff! Quem é Hades? Já o viste? Nunca sequer o cão levou para fazer suas necessidades. Será mais feliz vindo comigo.
TESEU — Vamos. Apressa.
(Saem Héracles e Teseu. O último caminha em passos mancos)
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