9.11.10

À espera de Inês

Éramos dois: eu e o arrebol sombrio,
Ruivo titã, celestial rubor.
Já tardava a espera – e nunca vinha
A ele – a noite; a mim – Inês.
Mas se gigant'era, também seu tédio;
Então oculto, doravante eu só.
Lá fora, a guarda de loriga brônzea,
De manopla d’ouro, de aceso archote.
Assim se ouvia o crepitar de chamas.

Batiam-se, ai! – aflição brunal –
As folhas frementes, as árv’res todas,
Assim que Bóreas, visitante vil,
Tomava, sempre tempestuoso, o reino.
“Arauto frio! Mais que prestes vieste,
E me feriste com lançó nefasto.
Cala! Não sopres em meu ouvido mais.
Se range a porta – é Inês quem chega.”

A noite, dorida, em cinzento luto,
Precipitou todo seu pranto em terra...
Demônios de pedra à murada: gárgulas;
Gargarejam, gospem, gargalham, gozam!
Irrisão – látego voraz, mortal.
Aos olhos o sal perpetuava ardor,
Manchava o rosto e temperava a boca.

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