Nuvens, abri-vos! Deixai-me ver Deus.
Ele se esconde. Mostrai o deus frouxo.
Servem-lhe fracos, cultuam-no coxos.
Dão-lhe altivez, mas cobriu-se com véus.
Juntas, imensas, assim sois um véu.
Vossa grandeza se faz de cobri-lo?
Não! Revelai-mo. Lançai-o aos ímpios.
Nuvens, abri-vos! Deixai-me ver Deus.
Rio. Como podem confiar nesse deus?
Seguem-no coxos, abraçam-no frouxos.
Dão-lhe altivez, mas cobriu-se com véus.
Dele é tal sangue que mancha os mil véus?
Ferem-no ímpios! E a treva a cobri-lo.
Nuvens, abri-vos! Deixai-me ver Deus.
20.11.10
9.11.10
À espera de Inês
Éramos dois: eu e o arrebol sombrio,
Ruivo titã, celestial rubor.
Já tardava a espera – e nunca vinha
A ele – a noite; a mim – Inês.
Mas se gigant'era, também seu tédio;
Então oculto, doravante eu só.
Lá fora, a guarda de loriga brônzea,
De manopla d’ouro, de aceso archote.
Assim se ouvia o crepitar de chamas.
Batiam-se, ai! – aflição brunal –
As folhas frementes, as árv’res todas,
Assim que Bóreas, visitante vil,
Tomava, sempre tempestuoso, o reino.
“Arauto frio! Mais que prestes vieste,
E me feriste com lançó nefasto.
Cala! Não sopres em meu ouvido mais.
Se range a porta – é Inês quem chega.”
A noite, dorida, em cinzento luto,
Precipitou todo seu pranto em terra...
Demônios de pedra à murada: gárgulas;
Gargarejam, gospem, gargalham, gozam!
Irrisão – látego voraz, mortal.
Aos olhos o sal perpetuava ardor,
Manchava o rosto e temperava a boca.
Ruivo titã, celestial rubor.
Já tardava a espera – e nunca vinha
A ele – a noite; a mim – Inês.
Mas se gigant'era, também seu tédio;
Então oculto, doravante eu só.
Lá fora, a guarda de loriga brônzea,
De manopla d’ouro, de aceso archote.
Assim se ouvia o crepitar de chamas.
Batiam-se, ai! – aflição brunal –
As folhas frementes, as árv’res todas,
Assim que Bóreas, visitante vil,
Tomava, sempre tempestuoso, o reino.
“Arauto frio! Mais que prestes vieste,
E me feriste com lançó nefasto.
Cala! Não sopres em meu ouvido mais.
Se range a porta – é Inês quem chega.”
A noite, dorida, em cinzento luto,
Precipitou todo seu pranto em terra...
Demônios de pedra à murada: gárgulas;
Gargarejam, gospem, gargalham, gozam!
Irrisão – látego voraz, mortal.
Aos olhos o sal perpetuava ardor,
Manchava o rosto e temperava a boca.
7.11.10
Diana
Eu sempre amei Diana. O meu corpo crepitava. Passava Apolo no formoso carro, mas o teimoso Hélio ficava. O meu corpo já era cinzas, tal qual vapor que as indústrias lançavam. As vagas sempre amaram o céu. Cada gota a cada dia se libertava do mar. O oceano borbulhava. Eu sempre amei Diana. Era inveja o cinza entre nós dois, vapor que sempre quis perfurar. Hélio teimava em cobri-lo de ouro, sangue e bronze. A minha vista crepitava. Passou Apolo perseguido por vultos frementes e o carro parado lá fora. As vagas tentam abraçar o céu, mas Apolo passa entre os dois. O vapor das indústrias faz tudo fremir. Hélio, tal qual cinzas. Meu sangue borbulhava. Eu sempre amei Diana.
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