23.5.16

Cai fora dessa sala

          Eu tinha passado a noite em claro bebendo, comendo porcaria e assistindo televisão. Não que eu achasse isso divertido, mas dormi o domingo inteiro por causa da festa que fui no dia anterior. Sendo assim, acabei dormindo na aula pra apaziguar a minha cólica. Mas a professora era um saco. A professora de Química.
          Falava, falava, não me deixava dormir em paz. Estava com a cabeça deitada sobre a mochila e os braços ao redor, mas não adiantou. Sua voz nasal chata, seu sotaque do leste europeu – ela era romena – estavam me deixando puto. Mas a gota d’água foi quando ela me abordou e me mandou sair de sala.
          “Que vergonha, hein, Daniel? Você não tem vergonha nessa cara? Eu trabalho em três colégios, hoje vou dar aula nos três turnos e você dormindo aí por causa de noitada. Você já me viu dormindo aqui? Trinta anos ensinando nessa escola, e nunca faltei um dia que não precisasse faltar. Cai fora dessa sala, porque eu não venho pra cá fazer papel de idiota dando aula pra um à toa como você. Mais respeito, da próxima vez, moleque”.
          Só não mandei aquela mulher enfiar os três colégios no traseiro porque estava cansado demais pra discutir. Nem relutei, saí de sala. Ao invés de ficar perambulando pelos corredores, como eu faria, fui direto pro banheiro masculino e sentei pra dar uma cagada. Melei toda a privada, não resisti. Tive de sentar porque não sei mijar que nem mulher em um banheiro público.
          O que aconteceu foi que eu dormi na privada por uns trinta minutos e nem havia fechado a portinha da minha divisória. Acordei com as risadas de um moleque do primeiro ano que se metia a esperto pra cima de todo mundo.
          “Que cagão”, ele disse.
          “Você não caga, não?”
          Ele tirou um celular do bolso, parecia que ia tirar uma foto porque apontava na minha direção. Levantei do nada, peguei-o pela blusa. Ele parecia assustado, então mergulhei a cabeça dele na minha bosta. Eu não queria ser ele. De quebra, arranquei suas calças jeans e limpei minha bunda usando elas. Folhas de caderno irritam ainda mais o traseiro.
          Enquanto o cara tossia e vomitava, com o rosto sujo, peguei seu celular e parti em duas partes. Como era um daqueles de flip, achei que não era o suficiente e pisei em cima de ambos os pedaços. Depois levantei minhas calças e fui esperar os poucos minutos que restavam para a aula de Geografia.

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