27.9.15

Tédio

Tenho a janela sempre aberta
E o negror à vista.
O céu é menos negro do que as folhas do coqueiro.
Há, na negrura, uma luz quadrada, além.
Os pássaros cantam, penso na manhã.
Em mim, o sol nasce
E desperta sensações de poesia,
E a minha gata acorda.
Espreguiça-se, volta a dormir.
Observo.
O abdômen infla...
O abdômen contrai...
As sensações latejam tão fraquinhas...
O pensamento é memória qualquer,
Assim como isto, assim que se lê.

17.9.15

Letargia

Escura a retina, antes clara;
O sol, menos claro, caindo
Sangrento às paredes da casa
Escura, igualmente sumindo.

Assenta o silêncio na sala,
Sussurras insultos dormindo.
Sibila a sonâmbula fala,
Sonhando o teu triste domingo.

Nos sonhos, perpassam-te mágoas.
Despertas co' os olhos chovidos.
Vislumbras um vulto ou fantasma
Parado, soberbo, sorrindo.

Resmungas: são mudas palavras.
Esvai-se a visão aos pouquinhos.
Levantas, tateias o nada;
Desabas co' o peito dorido.