31.5.12

Noite rubra

Trôpego, na noite nefasta,
Debrucei-me na cama rubra.
Ornava a namorada ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

Eu, ébrio de ideias nefastas
E lívido co’ a amante rubra,
Tomei da cabeleira ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

Ergui a lâmina nefasta
E vislumbrei lágrimas rubras.
Levou-me o brilho da mi’a ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

Incrustei-me a prata nefasta,
Co’ o punho firme e a palma rubra.
Unia-me à formosa ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

Mas não veio a deusa nefasta,
Da cintilante foice rubra,
Que encravara na bela ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

Trêmulo, da alcova nefasta
Fugi em caminhada rubra,
Deixando sobre a virgem ruiva —
Lume argênteo, folha encarnada.

14.5.12

Hoje, não

Há-me necessidade de morrer.
As pernas sentem o cansaço da vida:
Quero descansar os olhos,
Pousar as costas.

Tenho preguiça demais.
Arrasto o amanhã para longe, lento.
Escureço as manhãs.

“Hoje, não”, tenho dito a mim,
Tenho dito a tudo.

Não me há vontade de viver.
Sinto que as pernas só querem dobrar-se,
Os olhos se cansam,
As costas doem.

Há-me demasiada letargia:
Arrasto-me por corredores, degraus e ruas.
Escureço-me aos transeuntes.

Hoje, não.
Hoje, não moverei um músculo.

Há um grande cansaço de estar vivo.
Estiro as minhas pernas:
Os meus olhos são sono,
Como as costas.

Faltam-me vontades.
Sempre faltaram, então tudo se arrasta,
Como as sombras.

Hoje, não. Não... Não...
Hoje, não sou.