4.4.16

Contato imediato

      Paulo não acordava de madrugada com frequência. Aquela, contudo, não era uma noite comum. Foi o barulho que saía das caixas de som de seu computador que perturbou seu sono. A máquina estava desligada, porém conectada à tomada na parede. Eletricidade corria pelo cobre até a fonte, ligada ao gabinete, ligado às caixas em questão, que transformavam os pulsos em ruído branco. Em meio aos sons caóticos ele conseguiu ouvir uma voz.
      Ela dizia muitas coisas indecifráveis. Paulo jurava estar sonhando até sentar-se na cama. Constatou então: não só não estava sonhando, como estava muito bem acordado. Nem mesmo o despertador conseguia resultado tão prontamente. Ele enxugou o suor frio da testa com o lençol. Palavras ainda ecoavam pelo quarto, porém não era um idioma conhecido, e a voz soava inumana. Provável resultado da distorção que ela sofria ao interferir.
      Era verão. A janela estava aberta. Do lado de fora, jazia o descampado enorme, a grama baixa. Paulo ergueu-se para ver se ele ainda estava lá, e estava. Porém, sobre ele, pairava um objeto voador não identificado. A forma era de prato e luzes coloridas saíam dele. Elas não piscavam, não como aviões faziam. Só giravam num carrossel lento, agourento.
      “É isso,” ele pensou. “Está acontecendo. É verdade.” Da janela ele observava o objeto descer, descer para o descampado. As vozes agora mais altas. Ele sabia que os tripulantes discutiam entre si. Qualquer idioma que fosse, ele sabia que trocavam termos técnicos. Estavam assegurando um pouso safo. O prato estava prestes a pousar no gramado, mas não o fez. “Não é possível.” Ele andou até a janela e coçou os olhos.
      O prato não era tão grande quanto parecia na janela. Não, ele tinha tamanho de prato. Pequeno, ele pousou no parapeito da janela aberta. Metade das luzes se apagaram, a estática se aquietava nas caixas de som. O silêncio voltou ao quarto. Não por muito tempo. Quando a espaçonave diminuta se abria, Paulo a golpeou com as costas da mão. Ela caiu da janela para o lado de fora e seus tripulantes berraram até a morte.
      Depois de varrer nave e cosmonautas, Paulo jogou o lixo fora e voltou pra cama. Ainda tinha mais quatro horas de sono até ter que tomar café e partir pro trabalho.

Nenhum comentário: