Paulo
não acordava de madrugada com frequência. Aquela, contudo, não era
uma noite comum. Foi o barulho que saía das caixas de som de seu
computador que perturbou seu sono. A máquina estava desligada, porém
conectada à tomada na parede. Eletricidade corria pelo cobre até a
fonte, ligada ao gabinete, ligado às caixas em questão, que
transformavam os pulsos em ruído branco. Em meio aos sons caóticos
ele conseguiu ouvir uma voz.
Ela
dizia muitas coisas indecifráveis. Paulo jurava estar sonhando até
sentar-se na cama. Constatou então: não só não estava sonhando,
como estava muito bem acordado. Nem mesmo o despertador conseguia
resultado tão prontamente. Ele enxugou o suor frio da testa com o
lençol. Palavras ainda ecoavam pelo quarto, porém não era um
idioma conhecido, e a voz soava inumana. Provável resultado da
distorção que ela sofria ao interferir.
Era
verão. A janela estava aberta. Do lado de fora, jazia o descampado
enorme, a grama baixa. Paulo ergueu-se para ver se ele ainda estava
lá, e estava. Porém, sobre ele, pairava um objeto voador não
identificado. A forma era de prato e luzes coloridas saíam dele.
Elas não piscavam, não como aviões faziam. Só giravam num
carrossel lento, agourento.
“É
isso,” ele pensou. “Está acontecendo. É verdade.” Da janela
ele observava o objeto descer, descer para o descampado. As vozes
agora mais altas. Ele sabia que os tripulantes discutiam entre si.
Qualquer idioma que fosse, ele sabia que trocavam termos técnicos.
Estavam assegurando um pouso safo. O prato estava prestes a pousar no
gramado, mas não o fez. “Não é possível.” Ele andou até a
janela e coçou os olhos.
O
prato não era tão grande quanto parecia na janela. Não, ele tinha
tamanho de prato. Pequeno, ele pousou no parapeito da janela aberta.
Metade das luzes se apagaram, a estática se aquietava nas caixas de
som. O silêncio voltou ao quarto. Não por muito tempo. Quando a
espaçonave diminuta se abria, Paulo a golpeou com as costas da mão.
Ela caiu da janela para o lado de fora e seus tripulantes berraram
até a morte.
Depois
de varrer nave e cosmonautas, Paulo jogou o lixo fora e voltou pra
cama. Ainda tinha mais quatro horas de sono até ter que tomar café
e partir pro trabalho.
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