14.2.12

Elevados

Serpenteamos o elevado,
Ofídio negro
Que algum deus petrificou
(Pois se cria, na morte).

Serpenteamos o elevado,
Dia após dia,
Oeste após sul.
À direita,
Repousa o gigante rochoso,
Com as vagas a marulharem os seus sonhos.

Serpenteamos o elevado
E abraça-nos uma quentura.
À esquerda,
Agitam-se as vagas
E o sal se cristaliza nos rostos.

Serpenteamos o elevado,
Prolongamos nossa fadiga:
Duma turba à outra,
De caos a caos,
A serpentear.
Insetos 
Enxame metálico 
Pelo dorso dum ofídio dum deus criador.

Serpenteamos o elevado,
E tenho das lembranças ternas
A perfídia... A perfídia...

Serpenteamos o elevado,
Sul após oeste.
Por entre braços lânguidos, 
Surge Aurora, por uma fresta.
Rasga o plúvio prata-bronze.
O ciano em combustão.

Serpenteamos o elevado.
Acima de nós,
O ventre firme
Do ofídio de dorso quente.


Serpentemos o elevado:
Sempiterno sono das rochas,
Sempiterno marulhar,
Sempiterna passarela de carapaças metálicas.

Serpenteamos o elevado.
Os ombros arqueados se consolam,
Trocam sais.
Sempiterno serpentear.

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