12.4.11

Retorno a Madri

Como choveu, aquela noite! Se, em vez de aurora, seguisse chuva, minhas lágrimas não seriam lágrimas, e hoje, diante deste clarão que rasga a cortina, eu seria outra. Pois bem, retorno a este quarto de hotel porque ainda sou aquela  tal qual um corsário que retorna à ilha, há muito deixada, para deitar-se sobre o seu tesouro. Mas o meu, quem o levou?

Molhados, adentramos a alcova. Ele havia me colocado contra a porta. Entre beijos e risos, dizia-lhe que acabaríamos acordando os vizinhos. Assim, Juan Pablo ria-se. Punha-se a latir e a uivar. Lambia-me o rosto, sugava-me a língua, os lábios e os mordia; beijava-me sedento o pescoço, cobria seu rosto entre meus seios. A tudo isso meu corpo fremia, inflamava. A cada toque de seus dedos, meus finos pelos se eriçavam; a cada aperto da minha carne por suas mãos, um ar quente subia pelas minhas pernas.

Lançou-me à cama, abruptamente, como se tivesse lembrado de mulher e filhos, preparando-se para fugir dali à luz turva da noite. Não. Era Juan Pablo. Sorria-me um sorriso de lua; dizia-me insânias com sotaque hispânico; aproximava-se felino, com a garrafa de vinho por escorrer pelos dedos e vinho por escorrer pela boca, pelo queixo, pelo busto... e minha língua por saber o gosto do vinho em seu corpo.

Atirou, por sobre o ombro, o meu chapéu com desdém. Feito um corvo intruso, pousara na quina do armário. Quanto ao negro vestido, fora tirado com cautela. Talvez lhe fosse mais excitante a descoberta, as vergonhas lhe sendo expostas pouco a pouco: os ombros, as mamas, os flancos, o abdômen, as costas, a anca, as coxas... Depois, embebedava-se com minha volúpia, sem que eu soubesse mais o que era meu, o que era saliva.

Ai, Juan! Querido Pablo. Aquela noite chuvosa... Hoje, sol, e eu ainda encharcada.

Éramos chuva, vinho e suor. Nosso gozo foi a última gota a afogar-me. Foi ali meu último sono. Quando o alvor me despertou, era o pesadelo a sufocar-me. Foi-se Juan, levando-me o ar.

Mas vejam só! Não estou outra vez seminua, sobre o leito, ouvindo vozes de Madri?... E sobre as pernas um diário em branco, o qual preencho com Pablo, minha única memória.

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