1.11.09

Mar do Esquecimento

E quando a onda me levar
- talvez em uma garrafa -
eu não olharei para trás com remorso
ou mágoas, tampouco com ódio,
mas com um sorriso de paz e alegria,
por desatar todos os nós.
E não mais haverá nenhum nós,
pois eu peço o abandono,
para que seja eu, apenas eu,
singular, unidade,
e minha eterna companheira,
a solidão
- meu lugar seguro,
sendo solitário não corro nenhum risco -
e as correntes marítimas,
favoráveis ou não
serão o meu transporte.

Em pouco tempo,
chegarei em um litoral,
uma nova praia
onde não criarei raízes ou vínculos
- para que seja maleável e moldável -
e não me sinta preso a nada.
E quando meus feitos falarem por mim
e minhas ações forem além da minha imagem,
eu serei descoberto,
e não mais um completo estranho,
um anônimo, nem um desconhecido.
Eles me enxergarão e no ímpeto,
muitos virão até mim
- como sempre vêm e querem ver, saber -
e não encontrarão correspondência.
Eles não conseguirão, mesmo que cheguem perto
e me toquem,
Eles não conseguirão, não sentirei nada.
Não há elo ou empatia, apenas o vazio.
Eles não me perceberão, não há brecha.
Serei indiferente, pois assim fui criado,
por eles, eles me tornaram assim
E antes que haja alguma troca,
a água virá me carregar
e não remarei contra a maré,
eu sei, é inútil.
Pois a liberdade, no paradoxo de seu real significado,
me tornará seu escravo
e em sua corrente,
me conduzirá pelos sete mares,
fazendo do meu ciclo eterno
até que a vida encontre seu destino final e derradeiro,
E eu desapareça nas águas do esquecimento,
sem que haja mão para me trazer a tona.
Serei cúmplice da morte e ela de mim,
virá e me abraçará com um sorriso.

E como pegadas na areia
o mar e o vento me apagarão
e eu serei esquecido para sempre,
pois é esse o meu desejo.
E serei, talvez,
apenas uma lembrança daquilo que não deveria ser criado.

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