Formas de treva, que se elevam colossais, feito garras do abismo; lanças de negrume, espadas de escuridão; silhuetas encrespadas, que serram o céu tenebroso e cinza. São pinheiros do horizonte, são barreira da estrada, que mal se vê, nesta neblina. Há terra, sob os meus pés, e mais vegetação de sombra, ao meu redor. Adiante, o negror se agiganta, marcha ao meu encontro, e cada passo é mudo: o silêncio que só os incorpóreos possuem. Eu extasio ou gelo? Ele vem por mim. Neste momento, preenche todo o meu campo de visão. Ainda que eu corresse, seria alcançado. Mas teimo. Eu temo a sua imensidão.
Na fuga do obscuro, chego a ruínas. Estou seguro. Ando por aqui e por ali, procurando algo. Preciso encontrar. O quê? Numa sobra de casa, vejo uma escrivaninha, uma cama, um livro ou um diário e parte do alicerce. As plantas cobrem quase tudo, como a noite, que escorre pela paisagem. Ao menos, agora, há luz; vista limpa. As estrelas frias compõem uma miríade de lamparinas.
Morros nos circundam, a mim e a uma tropa dispersa cujo homens correm para lá e para cá. Parece que fogem, que foram derrotados numa guerra que não se ouve. Apenas ouço pés e palavras que não marcam. Ando por entre eles e, curioso, paro. Muitos soldados, de joelhos, próximos a uma cerca, escutam o discurso do superior adiante e de pé, todo rocha. Eu só me atento ao fim:
— Então vocês se tornarão um com o solo.
Nesse instante, todos, sem hesitarem, sacam as suas pistolas e encostam contra as suas cabeças. Atiram. E tombam para frente, com o chão engolindo os seus rostos. Antes que a sincronia do ato pudesse espantar-me, outro chega e se põe ao lado dos mortos. O líder, qual estátua, permanece. Rapidamente, aquele apanha a sua arma e faz como os demais, caindo igual. Viro-me e sigo para qualquer direção.