26.4.12

Hay

I

Chegou-nos o luar,
Sob algumas árvores,
Entre o peito e os braços.
Entre sóbrio e bêbado,
Meus lábios nos fios
(E uns soltos na cama).

Teus olhos atentos
Às luzes da noite...

Na parada, ônibus.
Eu parado, tu ias.
O carro roncava
Sonolentamente.
Depois, era um vulto
De brilhos sonâmbulos.

Meus olhos ardendo
Às luzes da noite...

II

Devia ser breve;
E não eu, mas outro.
Ah! Como eu te quis,
Minha pulguentinha!
Minhas mãos coravam,
Qual pincel na tela,
O teu corpo aguado.
Tu eras sorriso,
Receio, volúpia,
Enternecimento...
Hay, you are so crazy!
Amavas a mim?

III

E nós dois, menina?
O que há de nós?

Alguns fios soltos
Às luzes da noite.

19.4.12

Eu não vou falar de mim

Eu não vou falar de mim,
Pois aborrece a quem fala e a quem ouve.
Não vou falar de mim, mas dos outros;
Mesmo que falar de mim seja um outro a falar.
Aborrece.
Não vou falar de mim.
Os outros sabem mais de mim do que eu mesmo.
Falarei dos outros.
Se quiseres saber de mim, pergunta aos outros.
Os outros sabem de mim e dos outros,
Mais do que sei de mim.
Pergunta aos outros,
Embora falar de mim aborreça.
Se eu tiver de falar de mim, será um outro,
Pois os outros sabem mais de mim.
Pergunta aos outros.
Ninguém pode saber de si.
Se eu der por falar de mim,
Por não saber de mim,
Sou outro.
Pergunta.
Aborrece falar de si.
Os outros, se queres saber, sabem falar de mim e de todos os outros.
Não vou mais falar de mim,
Se há quem fale.
Aborrece, se eu falar; e aborrece ouvir.
Mas quando eu falar de mim,
Um outro,
Já não sei de quem falo.
E quando aborrecer falar de mim,
E ouvir,
É medo de saber de si.